Captações com menos confetes

Em tempos de abundância de capital e destaques para captações milionárias, vale refletir: captação de investimentos é o meio ou o fim?

Camila Nasser

22/7/2024

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Passaram-se dez anos desde que Ben Horowitz, co-fundador de um dos mais prestigiados fundos de Venture Capital — o a16z — , publicou o artigo “The case for the Fat startup”, desafiando a ideia, padrão na época, de que as startups deveriam captar pouco investimento e preservar o capital. Ben argumentou, usando a sua própria história como exemplo, de que em alguns cenários as empresas podem (e devem) captar e queimar bastante dinheiro para vencer no mercado.

Se há dez anos o cenário das “Fat Startups” era contraindicado, e o Ben precisou apresentar um caso (muito bom, por sinal) para justificar essa estratégia, hoje o contexto é outro. O volume médio das rodadas de investimento cresceu substancialmente. Segundo levantamento da firma de VC Wing, o valor médio de uma rodada Seed cresceu 4.3x de 2010 para 2018. O montante que em 2010 era a média captada em Séries A (U$5 Mm), hoje representa uma rodada Seed.

Pesquisa realizada pela Wing mostra o crescimento no valor das rodadas

E não tem problema algum em ser uma Startup Gorda. Mas quando essas rodadas milionárias (ou bilionárias) são destacadas nas mídias e louvadas em nossos grupos de WhatsApp, ou quando apostamos sobre quem será o próximo unicórnio, parece que o capital se transformou no fim em si — e não no meio.

Gostaria, então, de retomar o argumento central de Ben Horowitz no “The case for the Fat startup”:

“Toda startup está em uma furiosa corrida contra o tempo. A startup precisa encontrar o product market fit que a direciona ao negócio certo e substancialmente dominar o mercado antes de ficar sem dinheiro. Como resultado, as duas grandes prioridades são:

1. Encontrar o produto que 1.000 empresas ou 50 milhões de consumidores querem comprar, e conquistar esses consumidores antes que seu competidor o faça.

2. Captar dinheiro o suficiente e gastá-lo de maneira inteligente de modo que você não vai falir no meio do caminho.

Gastar muito ou gastar pouco é o meio, não o fim. Escolha a estratégia certa para conquistar o mercado, ou você pode acabar indo diretamente para o purgatório (de startups!).”

Vivemos um momento de abundância de capital no mercado. Parafraseando o Sam Altman, da YCombinator, hoje é mais fácil receber investimentos do que investir. Isso não significa, porém, que você PRECISA captar grandes investimentos (ou captar qualquer investimento).

O quanto você capta depende de sua necessidade de capital para executar o seu plano e conseguir sobreviver. E o seu plano dependerá de seu contexto — do momento de sua startup, de seu mercado e de seus concorrentes.

Então, quando se deparar com a dúvida sobre quanto captar, considere:

1. Quanto você tem no caixa?

2. Quanto você gasta/planeja gastar por mês? Planeje-se para gastos e cenários inesperados.

3. Quais são os seus próximos cenários de capital (novas rodadas, saída ou se tornar lucrativo o suficiente para não necessitar de capital externo)?

4. O quanto você precisa para, dado o seu planejamento do negócio, chegar na próxima etapa de captação ou saída(considere um cenário de pelo menos 12–18 meses)?

Por fim, quando se trata de captação em troca de participação societária, o investimento é um “produto” que você, empreendedor, está comprando — em troca de um de seus mais valiosos bens. O quanto vale o seu negócio (ou o quanto você está disposto a vender dele) impacta no seu planejamento de captação e estratégia para rodadas de funding. Mas o equity também não é a única forma de financiar o seu negócio — Venture Debt, por exemplo, tem se destacado cada vez mais no mercado.

É importante levar em consideração “o quanto você está disposto a pagar” pelo investimento, no momento de traçar a sua estratégia de captações. As diferentes modalidades de investimento, como se calcular o valuation e como preservar o seu cap table são temas para próximos conteúdos. Ainda que influenciem na sua estratégia de captação, o seu primeiro passo, quando se deparar com a questão de “o quanto devo captar”, é considerar qual a sua verdadeira necessidade de capital.

No final do dia, não existe uma estratégia certa ou errada — seja uma startup magra ou uma startup bem gorda, o que realmente importa é para onde o capital vai te levar, e não o que você é hoje por causa desse capital.

Referências, inspirações e pessoas que pensam diferente:

Sobre estratégia de Startup Gorda:
The Case for the Fat Startup: https://a16z.com/2010/03/17/the-case-for-the-fat-startup/
Livro: Blitzscaling, do Reid Hoffman, fundador do LinkedIn

Sobre estratégia de Startup Magra:
Material da Sequoia: https://www.slideshare.net/eldon/sequoia-capital-on-startups-and-the-economic-downturn-presentation
Livro: The Lean Startup, do Eric Ries

Evolução das rodadas de investimentos:
Material da WING VC: https://wing.vc/content/seed-is-the-new-a-a-is-the-new-b

Camila Nasser

Camila Nasser

https://www.linkedin.com/in/camila-nasser

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RESPONSÁVEL PELO ARTIGO

É cofundadora e CEO do Kria, plataforma de investimentos em startups. A executiva iniciou sua carreira profissional no universo financeiro no Kria, como estagiária, ainda na época de faculdade. Ao longo dos anos, assumiu importantes cargos de liderança, como Head de Marketing e Chefe de Operações. E, no final de 2020, foi convidada para se tornar CEO da fintech. Camila é graduada em comunicação pela Escola Superior de Propaganda e Marketing.

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